Idas e vindas de
amores, amigos, dinheiro, gostos, fases... À medida que o tempo passa,
guardamos cada vez mais memórias na nossa gaveta de lembranças. Afinal,
continuar produzindo histórias é o que nos garante que estamos vivos de fato.
E o que fazer
com todo este material acumulado? Existem dois tipos de pessoas no mundo: os
aprendizes e os colecionadores. E a diferença abismal entre estas duas espécies
é justamente a resposta desta pergunta. (Como vivem? Do que se alimentam? Sim.
Roubei a pauta do Globo Repórter desta sexta.)
A palavra chave
do colecionador é 'quantidade'. Ele é o cara que vai chegar perto de você e
dizer "Sou muito experiente! Trabalhei em dez lugares, viajei para todos
os países da Europa, comi 100 mulheres e sobrevivi a dois ataques cardíacos."
Mas ele não é um acumulador compulsivo. 'Variedade' é a próxima palavra de
ordem dele. Afinal, de que adianta ter um álbum completo com figurinhas iguais?
O importante é ter uma de cada. Por este motivo, ele é o primeiro na mesa do
almoço de Natal a tirar da cartola um caso sobre qualquer assunto que estiver
rolando na mesa. Futebol chinês, religiões dos esquimós, sistema político do
Iêmen... Não importa! Com certeza ele terá alguma participação histórica para
contar.
Inclusive, este
é o terceiro termo mais importante do dicionário do colecionador: ostentação. O
prazer deste ser vivo é mostrar para o mundo quantas coisas ele já fez na vida
e receber o ingênuo título de 'O Experiente'. É assim que ele inicia seu ritual
do acasalamento, suas relações sociais no meio do grupo e sua busca pelo posto
de alpha. Se tiver outro colecionador na jogada então, o palco está armado.
Ganha quem tiver o chifre com mais galhos.
Outro fato
importante sobre o colecionador é que ele é uma criatura imutável. Ele não muda
de opinião, seus gostos continuam os mesmos, seus hábitos duram até a sua
morte.
Já na outra
extremidade do globo, vive um grupo oposto a estes seres. Seu mantra é um só: o
que vier é lucro. Porque para eles, não há acontecimento que não sirva para
tirar uma conclusão que agregue na sua vida. De desgraça a milagre, o que
importa é como ele vai sair depois que aquilo passar. O aprendiz é o famoso
cara que, quando fala que alguma coisa vai dar merda, realmente vai dar merda.
Ele entende mais de relacionamentos do que ninguém, mesmo tendo namorado uma
vez. Ele toma chifre, fica chateado, mas enxerga o que pode fazer de diferente
no próximo casamento. Ele volta de um acampamento com chuva no fim de semana,
lançando um livro sobre como previnir incidentes com goteiras na barraca. Ele
perde o pai que ele não via há anos, se arrepende pela ausência, e passa a
visitar a mãe toda semana. Ele é o cara que não permite o segundo ataque
cardíaco.
Um aprendiz está
em constante mudança porque ele está aberto a isso. Para ele, qualquer verdade
está sujeita a ser refutada no dia a dia. Seu objetivo principal com cada
reflexão pós-ocorrido é ficar mais esperto ao ponto de não cair nas mesmas
ciladas e, consequentemente, evitar sofrimentos futuros.
No final das
contas, quem leva vantagem? O conceito de experiência, assim como muitos
outros, foi superficializado. Afinal, de que valem tantos momentos se eles não
te ensinam nada? É como ser estudante, copiar a matéria do quadro e nunca mais
abrir o caderno. Você tem o registro, mas não aprendeu nada com ele, porque não
tirou suas próprias conclusões. Acho que isto justifica o fato de, vira e mexe,
encontrarmos velho com cabeça de jovem e jovem com cabeça de velho. Enquanto o
primeiro é um museu repleto de memórias, o segundo é um texto reflexivo de uma
ideia, como este.
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